quarta-feira, 16 de julho de 2008

A escolha da prova

Esta comunicação confirma dois aspectos que desenvolvemos no post anterior. Por um lado, o espírito tem alguma liberdade na escolha da prova reencarnatória, sendo chamado a participar no trabalho preparatório de toda uma equipa que se envolve na concepção de mais uma etapa evolutiva do ser.

Por outro, para que a nova reencarnação tenha sucesso na aquisição de valores expressivos em benefício do espirito, no seu regresso ao mundo espiritual, constituindo-lhe um acréscimo de alegria pelo aprendizado conseguido, necessário se torna que ele detenha desde logo um repositório de aquisições bem firmado que lhe permita reafirmar as suas boas intenções, manifestadas na espiritualidade, mas depressa esquecidas, perante mais um desafio terreno, exposto que se encontra, desde o nascimento, a tentações muito difíceis de resistir.

Quanto maiores forem os privilégios duma reencarnação concretizada num mundo de conforto e prazeres, maiores serão os desafios que o espírito terá de enfrentar. Poucos o conseguem, pois fácil se torna deixarmo-nos seduzir pela aparência duma vida livre de escolhos, onde crescem o egoísmo, o orgulho da raça, do nome de família e da fortuna, características do estádio em que ainda se encontra a nossa morada terrena.

Àqueles que lhe resistem, chamamos-lhes "santos", já que pelos obstáculos que têm de ultrapassar, se constituem como espíritos de excepção. Daí que seja de fundamental importância, o cuidado com que são preparadas as reencarnações de cada um de nós, de acordo com as nossas reais capacidades e aquisições, no momento actual em que a maioria de nós se encontra, devendo com humildade, seguir as orientações que, no mundo dos espíritos nunca nos faltam, para que um progresso, ainda que lento na aparência, se possa efectivamente concretizar.


Após a leitura duma lição do Capítulo: "Sede Perfeitos", manifestou-se um espírito, bastante triste pela opção tomada, antes da sua última reencarnação:


Fui autorizado a comunicar-me, através da médium, para vos deixar um pequeno apontamento da minha própria história para que sirva de alerta a muitos de nós. Agradeço a quem mo permitiu e peço também autorização a vós outros para que oiçam com atenção as minhas simples palavras.


Fui eu, João de A. e M., pertencente a uma das mais célebres famílias terrenas, tendo escolhido, ainda minado de orgulho e ansioso por usufruir todos os privilégios da Terra, indiferente a alguns conselhos que os meus guias, os meus mestres me inspiravam, tentando demover-me da mais perigosa das provas terrenas –a riqueza – insensível a todos os avisos, porque as minhas forças e os meus muitos defeitos me iriam, provavelmente, fazer cair, insisti até conseguir a reencarnação desejada.


E, assim, num belo dia, nasci no seio dessa família que tudo me prodigalizou: amor, atenção dos muitos criados que colocaram ao meu serviço, mas também dinheiro, muito dinheiro, com o qual convivi desde tenra idade.


Não me prepararam, meus pais terrenos, para o perigo do mau uso que se pode fazer, não me ensinando a gerir as minhas economias que me caíam nas mãos sem que eu fizesse o mínimo esforço para as obter. Podeis imaginar os perigos que enfrentei e a que mal soube resistir, pois cheio de contentamento, gastava egoisticamente tudo em mim e quanto mais tinha mais desejava e mais gastava.


Percorri toda essa existência terrena, gozando os prazeres da vida, todos aqueles que o dinheiro me podia proporcionar, não me furtando a nada, não prescindindo de qualquer um deles, sempre rodeado de muitos amigos (julgava eu), porque, quando muito temos, muito atraímos a nós, excepto, o melhor que nos podem dar – a amizade desinteressada, a mão amiga que nos apoia quando necessitamos e até aquela que nos contraria quando erramos – nem aí fui auxiliado, pois apenas pretendiam de mim aquilo que o meu dinheiro lhes podia proporcionar. Não que os acuse – que fique bem claro – porque o único responsável da minha queda fui eu com o meu egoísmo, com o meu desinteresse pelos pobres, por aqueles que sofriam, por aqueles que nada tinham e que se contentariam com uma simples moeda que eu gastava num abrir e fechar de olhos.


Em nada pensei que fosse exterior a mim, mas também nada ganhei, pois cheguei ao final da minha existência, fútil e vazia, tão fútil e vazio como ela própria; de alma seca, de sentimentos quase despida essa alma e ainda revoltada, porque a minha juventude tinha partido e, com ela, esses mesmos prazeres que tanto me deliciavam e que tanto me iludiram, proporcionando-me essa mesma queda.


Cheguei ao Mundo Espiritual ainda mais vazio e quando abri os olhos e me encarei, chorei, oh se chorei! Chorei pelo tempo que perdi, pelo egoísmo que não combati, por um Mundo que eu almejava e que estava ainda mais distante do que quando eu reencarnei.


Como me arrependi de ter falhado os meus propósitos, porque podeis crer, o meu propósito era sincero e era firme.

Só não era suportado em qualidades verdadeiramente adquiridas e que me fariam realmente progredir na Terra, onde a memória se escapa e onde as culpas cravadas na nossa alma são como que esbatidas, permanecendo apenas no inconsciente que, às vezes, brota e nos diz – quando queremos ouvi-lo – que estamos errados e que devemos mudar de direcção. Quase nunca ouvimos essa consciência, porque são os prazeres mundanos que a atrofiam, que a mandam calar para podermos seguir em frente gozando-os plenamente.


Agora estudo afincadamente, trabalho - sempre que me autorizam - naquilo que sei fazer, que é ainda muito pouco.


Tenho vindo a estas reuniões para ouvir as benditas lições que aqui são transmitidas a muitos como eu e medito como a minha vida provavelmente teria sido outra, se no meu lar rico e cheio de luxos eu tivesse alguns momentos semelhantes a estes, cultivados por aqueles que tinham a obrigação de me educar (e continuem a não ver qualquer crítica nestas minhas palavras); apenas tristeza por uma oportunidade perdida.


Que Deus me possa orientar os passos daqui por diante para que possa futuramente ganhar com merecimento uma nova oportunidade de regressar para provar que posso e devo mudar.


Registai bem esta minha história que não tem maior interesse senão de servir como exemplo para todos aqueles que se desviam do caminho recto, inebriados pelos prazeres terrenos.


Dizei a cada um deles, sempre que tiverem oportunidade, que meditem na lição de Jesus. Ensinai-lhes o que lhes acontece quando desrespeitam a Lei e quando aportam aqui a este lado: não são acusados, mas choram tristemente de arrependimento, porque maltrataram as Leis Divinas e a si mesmos.


– Obrigado querido amigo.
- Nada mereço para que me agradeçam.


–Ao ouvir as tuas palavras, amigo, “montes” de pensamentos desencontrados nos assomam à nossa mente e nós que conhecemos a doutrina espírita e temos a obrigação de conhecer as finalidades da existência terrena, quantas vezes nos perguntamos: “Será que estou a falhar? Será que estou a ir por mau caminho?”
E existe um ditado que todos nós bem conhecemos: Nunca digas desta água não beberei. Eu próprio me pergunto a mim, se tivesse nascido rico da riqueza terrena, será que eu teria até agora passado até agora uma prova tão perigosa?


- Quase nunca se consegue…Alguns espíritos superiores resistem e distribuem essa riqueza que herdaram por todos aqueles que se lhe aproximam sem olhar, sem pensar sequer o que poderiam fazer com esse mesmo dinheiro que é seu. Mas são poucos aqueles que o conseguem.

Aprendi à minha custa que só devemos pedir esta prova quando já tivermos muita experiência e muito amor ao próximo e a Jesus.


– É verdade meu amigo. Quantos de nós não dizemos: Ai, se eu fosse rico! Eu faria a caridade…aliás o Evangelho remete-nos para um desejo secreto de satisfazermos a nós próprios e só depois os outros. Confesso que eu tenho medo e por isso, comungamos contigo os nossos sinceros sentimentos de que possas triunfar no Mundo Espiritual, porque Deus é o Pai infinitamente bom e justo. Rogamos-Lhe por ti nesta modesta reunião que tantas lições nos traz do Evangelho e lições vivas como as tuas.


- Orai sim, orai por mim que tanto preciso, pois irei, conduzido pelos meus Mestres, desta vez avisadamente e com a sua ajuda, reencarnar numa existência miserável, necessitando de tudo, mas recebendo algo precioso e que me sustentará nas provas que terei de enfrentar: o Amor duns pais amantíssimos de muitas vidas, que tudo farão para me evitar a fome e o frio – mitigando-o, pois não o poderão fazer totalmente.
Aí aprenderei com a dor da indiferença dos ricos a ser mais humilde e a apreciar verdadeiramente o valor do dinheiro.
Para tentar então, posteriormente, e novamente a mesma reencarnação que ora falhei, pois quando falhamos não devemos desistir.


Devemos aprender, porfiar que um dia conseguiremos sair vitoriosos daquilo em que fracassámos.
Orai, pois por mim. Orai por mim.


Manuel

Núcleo Espírita ‘Amigo Amen’

Santa Maria




4 comentários:

  1. Venho de uma familia de classe média (no ínicio da minha vida um pouco pobre), mas até agora temos feito um bom esforço para melhorar as nossas vidas. Tanto eu como os meus irmãos temos estudos, e carreiras profissionais bastante razoáveis.
    Se podesse secolher, numa proxima vida, gostaria de nascer outra vez numa familia de classe média, mas um pouco mais próspera ;-)
    Mas a continuar com a nossa riqueza afectiva, moral e intelectual.
    É bom termos problemas na vida, e é bom resolver esses problemas. Ficamos mais fortes.
    Bj. Gostei do relato.

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  2. Ah, já me esquecia: quero ter a Alma rica!
    :-)
    Dinheiro nos bolsos é muito bom (ajuada a resolver alguns problemas; por exemplo, a pagar as contas), mas ter muito dinheiro sem ter valores não dá em nada.

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  3. Nunca pedi a Deus muito dinheiro, apenas o suficiente para poder viver com dignidade. A ambição é sentimento que não conheço, e o que tenho reparto.
    Beijos de bom findi semana minha linda. estou levando esse texto para mostrar para minha filha e meu genro.
    Muito obrigada!
    Rô!

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  4. Olá amigos

    Creio que a mensagem se refere a alguns "parasitas" sociais que nunca foram úteis à sociedade nem a si próprios, passando pela vida sem a viverem realmente, nada produzindo e desperdiçando talentos que poderiam ter colocado a favor de todos, pois limitam-se alguns destes seres a usufruir daquilo que outros lhes deixaram.

    Felizmente, esse não é o caso de nenhum de nós, embora falhemos um pouco todos os dias, não é?

    Rô, depois diga-me o que acharam do texto a sua filha e genro.

    Um abraço

    Joana

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