quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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IV Parte

Irmão Jacob conhecia a doutrina espírita. Foi seu divulgador nas suas várias vertentes, mas não havia feito luz sobre si próprio. Essa luz conquista-se, não pelas palavras, mas pela acção: devotamento ao próximo, sacrifício de si mesmo, luta contra as más tendências, quais sejam o egoísmo e o orgulho, em suma: exercício activo da caridade.

É o próprio Irmão Jacob que conclui: “Herdeiros de muitos séculos de experiência carnal, é impraticável a definitiva ascensão de um dia para o outro”.

De facto, cada um de nós estagia num determinado patamar evolutivo. Alguns estamos um pouco à frente, pelas conquistas que já realizámos; outros, sendo jovens estamos um pouco mais atrás, em termos evolutivos...

Demonstra infantilidade todo aquele que, a partir do momento em que começa a conhecer a doutrina espírita ou entra num centro espírita e assume ares angelicais, pensa que está no caminho da santificação.

O caminho é longo, áspero, rude... A alteração da forma exterior ou o afastamento da luta do dia a dia, apenas mascaram e/ou adiam a luta evolutiva.

A evolução é um processo interno e só se consegue vencendo as provas que se nos apresentam, por mais desagradáveis que sejam. Quem delas foge, sob que pretexto for (ainda que o argumento seja ‘servir Jesus’, como já ouvimos), falha a oportunidade concedida.

“Os débeis, os sofredores e os enfermos são os meus filhos predilectos e venho salvá-los”, disse Jesus.

Isto não significa que procuremos deliberadamente o sofrimento, o que seria uma contradição.

Significa sim, que nas dificuldades inerentes ao processo evolutivo não estamos sós!

E Bittencourt Sampaio afirma:

“Erramos e acertamos, aprendendo, corrigindo e aprimorando sempre, até à conquista do Supremo Equilíbrio”.

E continua, advertindo Irmão Jacob (e todos nós):

“Não te prendas, pois, às sombras destrutivas do remorso ou da queixa."

Quem terá passado, incólume nos precipícios das paixões humanas, senão o Mestre Amado e Senhor Nosso? Que aprendiz terá alcançado todos os ensinamentos de uma só vez?

(...) despreocupamo-nos de adquirir simplicidade a amor, paciência e renúncia, resignação e esperança (...)

Agrada-nos dispor, aborrece-nos obedecer. Buscamos a autoridade, desdenhamos a disciplina.

(...) Enchemos a Terra de palavras brilhantes, esquecidos de que a vitória no bem é mais concreta naqueles que ouvem o conselho sábio e o aplicam.

É por isto, meu amigo, que chegamos sem lâmpada própria às eminências da vida, incapazes de contemplar o brilho solar pela nossa deficiência de luz”.

Consolando Jacob, Bittencourt aconselha:

Deixa, Jacob, que rujam tempestades do mundo, esquece as recordações violentas do passado, emerge do ‘homem velho’ e caminha para o Alto!

Este desprendimento proposto por Bittencourt, que implica a aceitação plena das leis divinas com tudo o que isso pressupõe: a tolerância, a misericórdia, o perdão incondicional... foi, como veremos, a chave que abriu, posteriormente, as portas da luz a Jacob.

Naquela noite Jacob se perguntava: “Por que avançar no conhecimento cerebral, de alma às escuras?” E decidiu mudar de rumo dado constatar que “não passava de um mendigo espiritual”

Depois de ter frequentado por mais de duzentos dias a “escola da iluminação”, certa noite, de volta ao lar espiritual, sozinho, foi “assaltado por furioso grupo de clérigos desencarnados” que se acercaram dele “violentos e sarcásticos”. Fizeram-lhe lembrar os ataques que ele, impensadamente, havia desferido contra os padres. Cobriram-no de insultos e ameaçaram-no.

Isolando a mente e lembrando-se dos conselhos do Senhor de “orar pelos que nos perseguem”, Jacob, “tocado por sincero desejo de auxiliá-los”, entregou-se à prece, “não como de outras vezes, em que emitia palavras de louvor e súplica com bases menos profundas no sentimento”, mas no sentido de procurar, de facto, “ser útil àquela falange de entidades inconscientes.

... Decorridos alguns minutos, observei que, ao me contemplarem em oração, os circunstantes se afastaram um tanto, embora continuassem a criticar-me de doestos e zombarias”.

A entrega de Jacob foi tão sincera que “sobreveio o imprevisto”:

“Tomado de assombro, verifiquei que branda luz de um roxo carregado brilhava em torno de mim”.

Ao princípio pensou tratar-se de um espírito benfeitor que estaria junto dele. Intrigado, “refugiou-se, de novo, na prece, em silêncio”. Foi então que visualizou Bittencourt Sampaio.

“Jacob" – disse ele (...) não te admires da claridade que te rodeia.

Ela pertence a ti mesmo. Nasce das tuas energias internas, orientadas agora para a Bondade Suprema.

A concentração de amor verdadeiro produz bendita claridade na alma”.

E continuou:

“Ama sem paixão, espera sem angústia, trabalha sem expectativa de recompensa, serve a todos sem perguntar, aprende as lições da vida sem revolta, humilha-te sem ruído ante os desígnio superiores, renuncia aos teus próprios desejos, sem lágrimas tempestuosas, e a vontade justa e compassiva do Pai iluminar-te-á constantemente o coração fraterno e o caminho redentor!”

A lição que Irmão Jacob nos trouxe é, pois, precioso ensinamento para todos nós. Em particular os espíritas, trabalhem ou não em instituições espíritas.

Mário

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