quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A Prova da Riqueza

Líamos as reflexões registadas no Evangelho Segundo o Espiritismo no capítulo: 'Sede Perfeitos', em que somos levados a meditar, entre outros aspectos, na aplicação que damos aos bens materiais de que somos apenas fiéis depositários e nos perigos que o mau uso da fortuna sempre acarreta para o espírito no seu regresso, pelo remorso que nos advém de a termos utilizado apenas para nosso benefício pessoal, nos gozos mundanos, esquecendo de a empregar no desenvolvimento da sociedade a que pertencemos, com equidade e justiça, tornando-nos úteis e contribuindo para o bem-estar de todos; no final, um espírito trouxe-nos a sua comovente história:

"Fui autorizado a comunicar-me através da médium para vos deixar um pequeno apontamento da minha própria história para que sirva de alerta a muitos de nós. Agradeço a quem mo permitiu e peço também autorização a vós outros para que oiçam com atenção as minhas simples palavras.

Fui eu, João de A. e M., pertencente a uma das mais célebres famílias terrenas, tendo escolhido ainda minado de orgulho e ansioso por usufruir todos os privilégios da Terra, indiferente a alguns conselhos que os meus guias, os meus mestres me inspiravam, tentando demover-me da mais perigosa das provas terrenas – a da riqueza – insensível a todos os avisos, porque as minhas forças e os meus muitos defeitos me iriam, provavelmente, fazer cair, insisti até conseguir a reencarnação desejada.

E, assim, num belo dia, nasci no seio dessa família que tudo me prodigalizou: amor, atenção dos muitos criados que colocaram ao meu serviço, mas também dinheiro, muito dinheiro, com o qual convivi desde tenra idade.

Não me prepararam, meus pais terrenos, para o perigo do mau uso que se pode fazer, não me ensinando a gerir as minhas economias que me caíam nas mãos sem que eu fizesse o mínimo esforço para as obter. Podeis imaginar os perigos que enfrentei e a que mal soube resistir, pois cheio de contentamento, gastava egoisticamente tudo em mim e quanto mais tinha mais desejava e mais gastava.

Percorri toda essa existência terrena gozando os prazeres da vida, todos aqueles que o dinheiro me podia proporcionar, não me furtando a nada, não prescindindo de qualquer um deles, sempre rodeado de muitos amigos (julgava eu), porque, quando muito temos, muito atraímos a nós, excepto, o melhor que nos podem dar – a amizade desinteressada, a mão amiga que nos apoia quando necessitamos e até aquela que nos contraria quando erramos – nem aí fui auxiliado, pois apenas pretendiam de mim aquilo que o meu dinheiro lhes podia proporcionar. Não que os acuse – que fique bem claro – porque o único responsável da minha queda fui eu com o meu egoísmo, com o meu desinteresse pelos pobres, por aqueles que sofriam, por aqueles que nada tinham e que se contentariam com uma simples moeda que eu gastava num abrir e fechar de olhos.

Em nada pensei que fosse exterior a mim, mas também nada ganhei, pois cheguei ao final da minha existência, fútil e vazia, tão fútil e vazio como ela própria: de alma seca, de sentimentos quase despida essa alma e ainda revoltada, porque a minha juventude tinha partido e, com ela, esses mesmos prazeres que tanto me deliciavam e que tanto me iludiram, proporcionando-me essa mesma queda.

Cheguei ao Mundo Espiritual ainda mais vazio e quando abri os olhos e me encarei, chorei. Oh se chorei! Chorei pelo tempo que perdi, pelo egoísmo que não combati, por um Mundo que eu almejava e que estava ainda mais distante do que quando eu reencarnei.

Como me arrependi de ter falhado os meus propósitos, porque podeis creer, o meu propósito era sincero e era firme. Só não era suportado em qualidades verdadeiramente adquiridas e que me fariam realmente progredir na Terra, onde a memória se escapa e onde as culpas cravadas na nossa alma são como que esbatidas, permanecendo apenas no inconsciente que, às vezes, brota e nos diz – quando queremos ouvi-lo – que estamos errados e que devemos mudar de direcção. Quase nunca ouvimos essa consciência, porque são os prazeres mundanos que a atrofiam, que a mandam calar, para podermos seguir em frente gozando-os plenamente.

Agora estudo afincadamente, trabalho - sempre que me autorizam - naquilo que sei fazer, que é ainda muito pouco.

Tenho vindo a estas reuniões para ouvir as benditas lições que aqui são transmitidas a muitos como eu e medito como a minha vida provavelmente teria sido outra, se no meu lar, rico e cheio de luxos, eu tivesse alguns momentos semelhantes a estes, cultivados por aqueles que tinham a obrigação de me educar - e continuem a não ver qualquer crítica nestas minhas palavras - apenas tristeza por uma oportunidade perdida.

Que Deus me possa orientar os passos daqui por diante, para que possa, futuramente, ganhar com merecimento uma nova oportunidade de regressar para provar que posso e devo mudar.

Registai bem esta minha história, que não tem maior interesse senão de servir como exemplo para todos aqueles que se desviam do caminho recto, inebriados pelos prazeres terrenos.

Dizei a cada um deles, sempre que tiverem oportunidade, que meditem na lição de Jesus. Ensinai-lhes o que lhes acontece quando desrespeitam a Lei e quando aportam aqui a este lado: não são acusados, mas choram, tristemente, de arrependimento, porque maltrataram as Leis Divinas e a si mesmos.

Doutrinador – Obrigado querido amigo

- Nada mereço para que me agradeçam.

Doutrinador – Ao ouvir as tuas palavras, amigo, muitos pensamentos desencontrados nos assomam à nossa mente e nós, que conhecemos a doutrina espírita e temos a obrigação de conhecer as finalidades da existência terrena, quantas vezes nos perguntamos: “Será que estou a falhar? Será que estou a ir por mau caminho?”

E existe um ditado que todos nós bem conhecemos: "Nunca digas desta água não beberei". Eu próprio me pergunto a mim: 'se tivesse nascido rico da riqueza terrena, será que eu teria até agora passado uma prova tão perigosa?'

- Quase nunca se consegue… Alguns espíritos superiores resistem e distribuem essa riqueza que herdaram por todos aqueles que se lhe aproximam, sem olhar, sem pensar sequer o que poderiam fazer com esse mesmo dinheiro, que é seu. Mas são poucos aqueles que o conseguem.

Aprendi à minha custa que só devemos pedir esta prova quando já tivermos muita experiência e muito amor ao próximo e a Jesus.

Doutrinador – É verdade meu amigo. Quantos de nós não dizemos: 'Ai, se eu fosse rico! Eu faria a caridade…' Neste aspecto, o Evangelho alerta-nos para o desejo secreto de nos satisfazermos primeiro a nós próprios e utilizarmos o surpéfluo em favor do próximo... Confesso que pessoalmente tenho medo e, por isso, comungamos contigo os nossos sinceros sentimentos de que possas triunfar no Mundo Espiritual, porque Deus é o Pai infinitamente bom e justo. Rogamos-Lhe por ti nesta modesta reunião que tantas lições nos traz do Evangelho e lições vivas como as tuas.

- Orai sim, orai por mim que tanto preciso, pois irei, conduzido pelos meus Mestres, desta vez avisadamente e com a sua ajuda, reencarnar numa existência miserável, necessitando de tudo, mas recebendo algo precioso e que me sustentará nas provas que terei de enfrentar: o Amor duns pais amantíssimos de muitas vidas, que tudo farão para me evitar a fome e o frio – mitigando-o, pois não o poderão fazer totalmente.

Aí, aprenderei com a dor da indiferença dos ricos, a ser mais humilde e a apreciar verdadeiramente o valor do dinheiro.

Para tentar então, posteriormente, e novamente, a mesma reencarnação que ora falhei, pois quando falhamos não devemos desistir. Devemos aprender, porfiar que um dia conseguiremos sair vitoriosos daquilo em que fracassámos.

Orai, pois, por mim. Orai por mim."


Comunicação recebida em reunião no dia 22 /04 /05

Manuel

Núcleo Espírita "Amigo Amén"

Santa Maria

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